Os desafios que o sector dos resíduos enfrenta nesta área são múltiplos e estão agora enquadrados pelo recém-publicado Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos.
O Electrão continua empenhado em melhorar os resultados globais da reciclagem de embalagens, designadamente no plástico e vidro, e integra por isso plataformas inovadoras de colaboração, como é o caso do Pacto Português para os Plásticos e Plataforma Vidro+.
Também em 2022 o Electrão desenvolveu um estudo de caracterização de resíduos que resultam da actividade da limpeza urbana e concluiu que existe, neste universo, um grande potencial de reciclagem com embalagens com pouco índice de contaminação. Os projectos de separação de embalagens a partir da limpeza urbana poderão assim incrementar significativamente a reciclagem, justamente no plástico e vidro.
A expansão de âmbito de actividade para a esfera das embalagens usadas de origem não urbana constituirá outra das grandes mudanças neste sistema de reciclagem que implicará um modelo de funcionamento e de articulação dos diferentes agentes. Até aqui o sistema apenas promovia a recolha e reciclagem de embalagens urbanas em colaboração com os sistemas de gestão de resíduos urbanos, mas passará a ter que incluir o principal agente do circuito não urbano, o operador de gestão de resíduos.
O novo sistema de depósito e retorno ainda não entrou em funcionamento em larga escala, a nível nacional, mas os efeitos já começaram a sentir-se no sistema de reciclagem de embalagens, como consequência dos projectos piloto que têm vindo a ser desenvolvidos um pouco por todo o país. O Electrão integrou e continua a promover um desses projectos piloto - o “MAFRA reciclar a valer+” - em colaboração com vários parceiros.
Muitas embalagens de bebidas de plástico e alumínio, inferiores a três litros, passam a ser incluídas no novo modelo, mas há uma parte que continuará a ser encaminhada para o ecoponto e, infelizmente, para o lixo comum. O sistema ainda não está operacionalizado em Portugal e já a Europa discute um novo regulamento para este fluxo.
Face à necessidade de melhorar os resultados de recolha e reciclagem de pilhas e baterias ao nível europeu este fluxo passará em breve a ser guiado por um novo regulamento comunitário, associado ao plano de ação para a economia circular e à estratégia industrial da União Europeia, que trará muitas novidades. As mudanças a operar aplicam-se não só à proteção ambiental, mas abarcam questões éticas e sociais, relacionadas com a importação de alguns materiais.
As novas regras apontam para que níveis mínimos de matérias-primas críticas para a transição digital e ecológica, como o cobalto, chumbo, lítio e níquel, sejam recuperadas por via da reciclagem e incorporadas em novos produtos.
As baterias passarão a ter que ser mais fáceis de remover e substituir, o que terá impacto nos ciclos de vida dos produtos.
As mudanças perspetivadas destinam-se a melhorar os resultados de recolha e reciclagem nesta área, com a imposição de metas ainda mais rigorosas, o que constituirá um grande desafio para toda a cadeia de valor, desde a concepção ao consumo passando pelos sistemas de gestão de fim de vida.
Admitimos que estabilizar um texto para as novas licenças de pilhas usadas, num quadro de eminente adopção de um novo regulamento europeu para este fluxo seja uma tarefa, no mínimo, desafiante.
A União Europeia prepara-se para adoptar o regulamento das matérias-primas críticas, que pretende dar resposta à procura de determinados materiais considerados estratégicos para a soberania da União Europeia e para a operacionalização da transição digital e energética.
Alguns destes elementos estão presentes nos equipamentos elétricos, o que implicará o aumento da recolha e reciclagem. Em Portugal esta realidade obriga a enfrentar os problemas do sector que estão bem identificados e continuam a impedir a obtenção de bons resultados de reciclagem, em particular, os relacionados com o mercado paralelo, com o défice de fiscalização e da falta de responsabilização dos diferentes intervenientes na cadeia de valor.
É público que existem um conjunto de operadores do mercado paralelo que desvia e processa ilegalmente resíduos dos canais formais com graves danos para a saúde humana, para o ambiente e para a economia. É por isso urgente apostar num sistema de fiscalização e inspecção moderno que recorra a instrumentos digitais. Exemplo da inovação necessária neste domínio são os GPS que o Electrão usou no âmbito do projecto WEEE Follow e que permitiu confirmar a dimensão do mercado paralelo: 3 em cada 4 equipamentos usados colocados na via pública são desviados para este circuito informal.
E como as entidades gestoras coexistem num regime de concorrência, que exige acertos para promover o equilíbrio do sistema, é urgente um mecanismo que consiga efectivar as decisões de compensação, que a CAGER não está a conseguir operacionalizar.
O quadro regulatório, demasiadamente denso, torna reféns as entidades gestoras, limitando a criatividade e a inovação para atingir aquilo que as licenças impõem: mais e melhor reciclagem. A extensão dos períodos de licença permitirá que as entidades planeiem a mais longo prazo. Paralelamente importa fazer um sério esforço de simplificação administrativa. Não faz sentido manter os níveis de complexidade regulatória que desviam do essencial.
Nesta equação complexa os bons resultados não dependem exclusivamente das entidades gestoras, a quem cabe o papel de organizar, operacionalizar e financiar o sistema, incluindo a expansão da rede de recolha, o aumento de qualidade do serviço e execução de campanhas de comunicação e sensibilização para potenciar melhores resultados.
O produto final é o resultado da actuação de um conjunto de actores. Começa com o consumidor, mas inclui também as empresas, operadores de gestão de resíduos, municípios, retalhistas, empresas de instalação e manutenção e as entidades fiscalizadoras. Cada agente desta cadeia de valor tem um papel determinante nos resultados e esta responsabilidade não pode em circunstância nenhuma ser diminuída.
2022 foi um ano especialmente dedicado à inovação no Electrão, o que se traduziu em bons resultados do ponto de vista operacional, como descreve o Director-Geral Adjunto do Electrão, Ricardo Furtado.
Em 2022, o Electrão recolheu mais 40% de equipamentos eléctricos usados, mais 14% de pilhas portáteis e 2% de embalagens, face aos valores alcançados no ano anterior.
36% dos equipamentos elétricos usados recolhidos foram encaminhados para parceiros com certificação Cenelec, a mais exigente no mundo da reciclagem.
O Electrão está a assumir também um papel cada vez mais relevante na retoma de algumas fracções críticas do tratamento dos equipamentos eléctricos, que têm que ser eliminadas de forma controlada.
Em 2022, o Electrão recolheu pequenos equipamentos via postal e consolidou o projecto de recolha de grandes electrodomésticos porta a porta, uma iniciativa actualmente em vigor em alguns concelhos da Área Metropolitana de Lisboa. É um contributo para combater a acumulação nas casas dos consumidores e impede que estes materiais sejam colocados na via pública e desviados para o mercado paralelo.
O Electrão reforçou a colaboração com os operadores de gestão de resíduos, o que ajuda a explicar os bons resultados alcançados, e continua a investir em meios de acondicionamento diversificados para garantir mais segurança e conforto nos locais de recolha.